FREGUESIA COM HISTÓRIA
“Bom cheirinho dos pinheiros,
A que não sei outro igual,
Do pinheiral de Mindelo,
Que é um belo pinheiral
Que em Azurara começa
E ao Porto vai acabar…”
José Régio, Romance Vila do Conde, Fado
Escrever sobre o passado de Mindelo é simultaneamente um desafio e um prazer.
Um desafio, porque é necessário procurar fontes que nos transportem para os mais importantes momentos da sua história; um prazer por ser a terra do meu coração, aquela que me viu nascer e crescer.
Terra com mais de mil anos de história, sendo os primeiros documentos conhecidos com referência a esta localidade anteriores à nacionalidade, datados do séc. X. A referência documental mais antiga relativa a Mindelo data de 1068, reportando-se a uma escritura que refere um lugar chamado Mindelo. Depois de conferidas as referências geográficas comprova-se ser o território da atual freguesia de Mindelo (PILOTO e SANTOS 1998:7, FERREIRA 2003:25).
Todavia, a pesquisa documental de diversas fontes permite colocar a hipótese que o topónimo Mindelo pode ter origem nos termos “Amenidello, Amenitello, Amenitelo ou Menidello”(FERREIRA 2003: 21), nome de um cavaleiro, provavelmente, do tempo de Vimara Peres, que se localizou nesta terra e que aqui lutou contra a invasão árabe.
Não podemos, contudo, deixar de referir outras referências cronológicas que nos confirmam a ancestralidade desta terra. Reportamo-nos a um conjunto de escrituras e cartas de doação de propriedades no lugar de Mindelo dos anos 1069, 1081, 1095, 1127. É depois nas Ordenações Afonsinas de 1258, que acedemos a um importante conjunto de informações sobre a História de Mindelo, sendo possível identificar já no séc XIII alguns dos atuais lugares da freguesia, tais como os lugares da Igreja, Passos, Pinheiro, Gondosendo, Outeiro, Manhalde e Paredes. Cada um destes lugares era composto por diversos casais, dos quais apenas uma pequena parte era foro reguengo. Esta situação tem uma explicação simples. Na época medieval a efemeridade da vida com muitos senhores a doarem os seus bens em favor da salvação da sua alma, daí muitas das propriedades estarem na posse de diferentes mosteiros, tais como Vairão, Moreira, Santo Tirso e Roriz. No séc. XVI, D. Manuel, em Évora, possuía Carta de Foral à terra da Maia, na qual Mindelo é referido, tendo estado integrado administrativamente nesta área até 6 de Novembro de 1836, data em que passa a integrar o Concelho de Vila do Conde, no qual permanece até aos nossos dias.
A delimitação da freguesia de Mindelo data de 1611. A 20 de Outubro desse ano, o Mosteiro de Moreira traçou os limites da freguesia, estando presentes os abades de Fajozes e Vila Chã, os representantes do Cabido da Sé do Porto e do Mosteiro de Vairão. Colocando-se hoje em causa os limites da Freguesia, deveria ser respeitada a verdade dos documentos. Não deve ser esquecido que os limites eram rigorosamente marcados com marcos, pois a recolha dos direitos reportava-se às áreas delimitadas por esses instrumentos de delimitação e os marcos de Mindelo referem claramente o Mosteiro de Moreira e o ano de 1611.
Marco fundamental do passado de Mindelo foi o desembarque dos liberais. Sobre este assunto muito se tem escrito, cada historiador defende o seu ponto de vista dando origem às mais diversas teorias. Segundo António do Carmo Reis “… de facto, até às primeiras décadas do séc. XX, era Mindelo toda a vasta área entre a foz do Rio Ave e a foz do Rio Leça, canonicamente um curato de apresentação dos Cónegos regrantes de Santo Agostinho, Convento de Moreira da Maia“ (REIS 1997:3).
No ano de 1081 Mindelo já tinha igreja, devendo a mesma ser localizada no lugar do Burgal, que pode ter origem no topónimo burgo, lugar de maior movimento. A igreja paroquial atual é do séc. XVIII, tendo no ano de 1770 sido assinados os contratos com os pedreiros e carpinteiros para a nova igreja, cuja construção se insere num movimento global, no qual todas as paróquias foram ampliando os seus templos ou construindo novos edifícios religiosos de raiz, com maiores dimensões, para uma população em desenvolvimento (PILOTO e SANTOS 1998:24)
Com uma vocação eminentemente rural, ao longo da história, foi-se aproximando do mar. Inicialmente, por necessitar dos seus fertilizantes para a terra, depois através de uma atividade pesqueira, marcada pelas limitações geomorfológicas de navegação na costa e, mais tarde, afirmando uma posição determinante no turismo, sendo um proeminente destino de veraneio e de lazer.
Hoje, a agricultura e a indústria assumem um papel essencial na economia local, tendo a atividade industrial tradicional de vocação têxtil dado lugar a indústrias de tecnologia de ponta.
Não podemos deixar de referir a criação da Reserva Ornitológica de Mindelo (ROM), em 2 de Setembro de 1957, pelo impulso do Dr. Santos Júnior, que através da anilhagem de aves levou longe o nome desta terra.